segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Lugares comuns (Lugares comunes)



 
 
 
 
Ano: 2002 (Argentina, Espanha)
Diretor: Adolfo Aristarain
Atores: Federico Luppi, Mercedes Sampietro, Arturo Puig, Carlos Santamaría

 
 O diretor Adolfo Aristarain nos oferece uma obra reflexiva, baseada no romance El Renacimiento de Lorenzo F. Aristarain, que discute crises em várias dimensões. Materiais, metafísicas ou filosóficas, o que importa é continuar ciente do que o protagonista chama de “a dor da lucidez” – impiedosa e necessária – e entender questões que, de tão repetidas, tornaram-se “lugares comuns” tais como necessidade e liberdade, livre arbítrio e destino, etc.
No início dos anos 2000, com a Argentina devastada pela crise econômica pós-política do presidente Carlos Menem, Fernando Robles (Federico Luppi) é um professor de Literatura numa universidade de Buenos Aires e crítico literário. Com convicções humanistas e iluministas, ele tenta provocar em seus alunos a necessidade de questionar, usar a Razão para tornar-se consciente de um mundo que sobrevive no caos e na desordem.
Casado com Lili (Mercedes Sampietro), uma assistente social que também sente no seu trabalho as consequências da crise do país, ele sofre o baque de ser obrigado - por decreto - a se aposentar. A partir daí, não só passará a receber uma remuneração muito aquém das despesas e necessidades do casal, como se sente compelido ao limiar da “velhice”, com toda a falta de expectativa que isso implica. Fernando entra em depressão e desabafa em seu caderno de apontamentos e pequenas crônicas, seu sentimento de derrota pessoal e do que acredita.
“Eu sei que existe a desordem, a decepção e a desarmonia. Existe um país nos destruindo, um mundo que nos expulsa, um assassino impreciso que nos mata dia após dia, sem que percebamos. Não tenho uma resposta. Escrevo do caos, da mais completa escuridão.”
Enquanto fazem uma viagem de férias a Madri, onde já moraram durante o exílio em plena ditadura militar, para visitar o filho Pedro (Carlos Santamaría), com quem Fernando está em choque  por sentir que fracassara na sua educação ao vê-lo abandonar uma promissora carreira literária e o seu país, buscando estabilidade financeira na Espanha e tomando decisões previsíveis e padronizadas, o casal entende mais precisamente sua condição de "estrangeiros" em qualquer lugar.
Com a ajuda de um amigo, vendem o apartamento onde sempre viveram e compram uma chácara no sul da Argentina. Buscando uma solução financeira, começam a plantar lavanda para destilar a essência e importar para produtores europeus de perfumes. Numa alusão à Revolução Francesa, Fernando pinta numa placa branca, vermelha e azul, o nome do lugar: “1789”. Colocando em prática suas ideias e crenças (Liberdade, Igualdade e Fraternidade) e percebendo a felicidade de Lili, ele sente a esperança e o inconformismo se reacenderem.
Lindo retrato intimista da reinvenção de um casal desiludido, no momento em que só tem um ao outro.
Em minha opinião, um ótimo filme – quase um manifesto – onde brilham não somente atores e diretor, mas também uma trama bem urdida e diálogos inteligentes e sem sentimentalismos.
 
 

 
 
 

Por Aline Andra
 


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