quarta-feira, 15 de maio de 2013

Nenhum a menos (Not one less)





 

Ano: 1998 (China)
Diretor: Zhang Yimou
Atores: Wei Minzhi, Zhang Huike, Tian Zhenda, Gao Enman, Sun Zhimei

 

 O filme quase documental – vencedor do festival de Veneza de 1999 – tem como referência principal a dura realidade de uma escola da zona rural da China, com poucos recursos e situada numa comunidade tão carente que as crianças, muitas vezes, são obrigadas a abandonar a escola para ajudar os pais no orçamento familiar (qualquer semelhança com o Brasil  é mera coincidência!).
O professor Gao tem que se ausentar por um mês para cuidar da mãe doente. No seu lugar, diante da recusa de pessoas mais capacitadas para substituí-lo, apresenta-se Wei, uma menina de 13 anos de idade, um pouco mais velha que seus alunos do 1º ao 4º ano e completamente despreparada para assumir a tarefa imposta pelo professor: não permitir a evasão de nenhuma criança sob pena de não receber o dinheiro que irão lhe pagar pelo trabalho.
Ela, além de sua incapacidade intelectual e timidez, começa a dar as aulas de forma vacilante e sem comprometimento, uma vez que só aceitou o encargo por causa do pagamento. Sequer é reconhecida ou respeitada como “professora” pelas crianças sem que haja também por parte dela qualquer gesto de afirmação. Quando uma aluna, com talento esportivo, é requisitada para treinamento em corridas, ela tenta impedir sua saída da escola, mas não consegue e começa a se preocupar com as consequências, apesar das garantias do prefeito da aldeia. Mas quando Zhang Huike – o aluno mais bagunceiro – é obrigado a sair da escola para trabalhar e saldar as dívidas da família, Wei acaba demonstrando a força de seu caráter e sua obstinação quando decide ir buscar o menino na cidade grande, enfrentando os percalços financeiros e sua inexperiência de vida. Unindo o grupo de crianças em um objetivo comum, ela os conduz intuitivamente através de lições de planejamento conjunto, solidariedade, criatividade e ética, numa teia de gestos e atitudes que vão transformando sua atuação como professora e desenvolvendo competências até então desconhecidas. Para a dedicada procura de Wei por Zhang Huike não existe limite.
Na cidade, o que se torna marcante é a distância que separa a realidade precária e plácida da comunidade de Wei do ritmo frenético e próspero da cidade grande em pleno processo de modernização da China. E isso acontece ao mesmo tempo em que Wei e Zhang Huike vivem uma exploração de suas possibilidades e de suas existências. Algumas cenas, que retratam essas experiências, tem singela beleza.
O diretor escolheu construir o filme com muita improvisação e, além disso, recorreu a atores não profissionais que exerciam funções idênticas ou similares as de suas personagens e que, inclusive, usaram seus nomes verdadeiros, o que trouxe maior veracidade e realismo social à obra.


 






 
Por Aline Andra

 

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