segunda-feira, 15 de abril de 2013

Viagem no tempo: e essa tal liberdade...


 

 
Estou lendo “História das Mulheres no Brasil” (Ed. Contexto), um livro de 680 páginas, escrito por vários historiadores e organizado por Mary Del Priore. Interessantíssimo! Uma viagem através dos tempos, analisando a trajetória das mulheres de todos os extratos sociais e em diferentes espaços do Brasil colonial aos nossos dias. Dá o que pensar...
Além disso, querendo dar continuidade ao post anterior, comecei a pesquisar sobre as pioneiras em diversas áreas. Aquelas famosas ou nem tanto, que deram a cara à tapa (muitas vezes, literalmente) para que pudéssemos, hoje, nos sentir tão independentes e donas de nossas escolhas. Depois de preencher cinco páginas com nomes conhecidos ou, para mim, desconhecidos, com suas conquistas e histórias, pensei nas anônimas. E concluí o que deveria ter sido óbvio desde o início. Foram tantas! Foram todas!
Entretanto, só se pode falar em reivindicações de direitos sob qualquer aspecto a partir do século 18. Datam dessa época, as primeiras atitudes e obras eloquentes.
Em 1792, na Inglaterra, Mary Wollstonecraft, não por acaso futura mãe de Mary Shelley, autora de “Frankenstein”, escreveu um dos clássicos da literatura feminista – “A reivindicação dos direitos da mulher” – onde defendia uma educação para meninas que aproveitasse seu potencial humano.
 
Mary Wollstonecraft

Essa luta ganhou impulso na virada do séc. 19, quando o primeiro momento foi motivado pelas reivindicações dos direitos democráticos como direito ao voto, divórcio, educação e trabalho. No contexto da Revolução Industrial, as ideologias socialistas se consolidaram, de modo que o feminismo se fortificou como um aliado do movimento operário, através de convenções, greves e passeatas.
 
 
 
No Brasil, em 1827, surgiu a primeira lei sobre educação das mulheres, permitindo que frequentassem as escolas elementares até então proibidas.
Nos Estados Unidos, em 1857, no dia 8 de março, 129 operárias de uma fábrica têxtil, morreram queimadas durante uma ação policial ao reivindicarem a redução da jornada de trabalho de 14 para 10 horas diárias e o direito a licença maternidade. Mais tarde, instituiu-se o Dia Internacional das Mulheres nesta data em homenagem a elas.
A partir de 1859, vários movimentos e associações surgiram na Rússia, Suécia, Alemanha, França e Japão reivindicando e conquistando a igualdade de direitos de voto e estudo em universidades até então  frequentadas somente por homens.
A Princesa Isabel, filha de Dom Pedro II, ao completar 25 anos em 1871, tornou-se a primeira senadora do Brasil. Durante viagem do Imperador, assumiu a regência e assinou a Lei do Ventre-Livre que estabeleceu liberdade aos filhos dos escravos. A Princesa aliou-se aos movimentos populares e aos partidários da abolição da escravatura, mas principalmente por razões político-econômicas, em 13 de maio de 1888, assinou a Lei Áurea que dizia: “A partir dessa data ficam libertos todos os escravos do Brasil".

 Princesa Isabel

 Em 1879, a brasileira Maria Augusta Generoso Estrella, com apenas 14 anos, mudou-se para os Estados Unidos a fim de estudar no Medical College and Hospital for Women. A banca de seleção a recusou por não ter a idade mínima do regulamento. Em discurso inflamado, ela convenceu os examinadores, terminou o curso e esperou até 1881, quando completou a maioridade para poder clinicar. Maria Augusta obteve sucesso na profissão atendendo mulheres e crianças.  Sua determinação foi fundamental para que o Imperador Dom Pedro II aprovasse a reforma no ensino superior, permitindo o ingresso das mulheres nas faculdades brasileiras.

Maria Augusta Generoso Estrella
 
  No Brasil, Chiquinha Gonzaga, compositora e pianista (compôs mais de 2000 canções populares, entre elas, a famosa marcha carnavalesca “Ô Abre Alas”) e autora de 77 peças teatrais, em 1885, tornou-se a primeira mulher a reger uma orquestra (a opereta “A corte na roça”).
 
Chiquinha Gonzaga

Em Portugal, no ano de 1891, Domitilla Hormizinda Miranda de Carvalho foi a primeira mulher a estudar e concluir, com boas classificações, os cursos de Matemática, Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra. Como condição para sua admissão, foi obrigada por exigência do reitor, a trajar-se sempre de preto e com chapéu discreto para não chamar a atenção.
 
Domitilla de Carvalho

No sec. 20, as mudanças foram acontecendo rapidamente e as mulheres ganharam maior visibilidade por causa das guerras, onde tiveram um papel fundamental, da mídia cada vez mais presente, dos livros e manifestos de sua autoria, na sua maior participação na política, nas artes e nas decisões familiares, atingindo seu ápice na década de 1960, que foi marcada por uma ampla revolução dos costumes e pela liberação sexual. Atitudes e comprometimentos demonstraram que a hierarquia entre os sexos não era uma fatalidade biológica, mas uma construção social.
Marie Curie, polonesa que exerceu sua atividade profissional na França,  foi uma pioneira, tanto por sua coragem e determinação como por suas descobertas científicas – descobriu dois novos elementos químicos: o rádio e o polônio  e fez importantes pesquisas no campo da radioatividade – e não só foi a primeira mulher a ganhar um prêmio Nobel, mas também a primeira pessoa a receber duas vezes essa condecoração. Em 1903, o de Física e em 1911, o de Química.
 
Marie Curie
 
 No Brasil, em 1917, Deolinda Daltro, professora, fundadora do Partido Republicano Feminino em 1910, liderou uma passeata exigindo a extensão do voto às mulheres.
 
Deolinda Daltro

Thereza de Marzo, brasileira, foi a primeira mulher a voar sozinha e a receber o diploma de piloto-aviador internacional em 1922. Ela também criou as “Tardes de Aviação”, nas quais efetuava seus voos com passageiros.
 
Theresa de Marzo

O primeiro voto feminino no Brasil (e na América Latina) foi em 25 de novembro de 1927 no Rio Grande do Norte. Quinze mulheres votaram, mas seus votos foram anulados no ano seguinte. Entretanto, a primeira prefeita da história do Brasil, Alzira Soriano de Souza, foi eleita no município de Lages – RN.
 
Alzira Soriano

No Brasil, o novo Código Eleitoral foi promulgado pelo presidente  Getúlio Vargas em 1932 e garantiu o direito de voto às mulheres casadas (com autorização do marido), viúvas ou solteiras com renda própria.
Também em 1932, a nadadora brasileira Maria Lenk, então com 17 anos, foi a primeira mulher a participar da delegação olímpica que viajou para Los Angeles.

Maria Lenk
 
 De 1937 a 1945, no Brasil, o Estado Novo criou o Decreto 3199 que proibia às mulheres a prática de esportes considerados incompatíveis com a condição feminina, tais como: “luta de qualquer natureza, futebol de salão, futebol de praia, polo, polo aquático, halterofilismo e beisebol”. 
 Em 1945, a Carta das Nações Unidas, um documento internacional, reconheceu a igualdade de direitos entre homens e mulheres.
Fanny Blankers Koen, da Holanda, mãe de duas crianças, superou todos os homens nas Olimpíadas, ao conquistar quatro medalhas de ouro no atletismo em 1948.
 
Fanny Blankers Koen

Em 1949, a francesa Simone de Beauvoir publicou o livro “O segundo sexo”, no qual analisava a condição feminina.
 
Simone de Beauvoir

 A Organização Internacional do Trabalho aprovou, em 1951, a igualdade de remuneração entre trabalho masculino e feminino para funções iguais.
Maria Esther Bueno, tenista brasileira, tornou-se a primeira mulher a vencer os quatro torneios do Grand Slam (Australian Open, Wimbledon, Roland Garros e US Open) em 1960. Conquistou, no total, 589 títulos em sua carreira.
 
Maria Esther Bueno

Em 1974, na Argentina, Isabel Perón tornou-se a primeira mulher a ocupar a presidência do país.
 
Isabel Perón

Em 1979, a equipe brasileira feminina de judô inscreveu-se com nomes de homens no campeonato sul americano da Argentina. Este fato teve como consequência a revogação do Decreto 3199.
Surgiu o lema “Quem ama, não mata” e a criação de centros de autodefesa para coibir a violência contra a mulher em 1980 no Brasil.
Em 1983, nos Estados Unidos, Sally Ride tornou-se a primeira mulher astronauta ao voar na nave espacial Challenger.
 
Sally Ride

Em 1985, foi implantada no Brasil, a primeira Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher – DEAM (SP) – e, em seguida, muitas outras em diversos estados.
Foi também aprovado pela Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei que criou o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher.
Nélida Piñon foi a primeira mulher  a ser eleita para ocupar a presidência da Academia Brasileira de Letras em 1996.

Nélida Piñon
 
Entrando no séc. 21, em 2001, a alemã Jutta Kleinschmidt foi a primeira mulher a vencer o Rali Paris-Dakar, na categoria carros. Considerada a prova esportiva mais difícil do planeta (atravessar o deserto), Kleinschmidt provou a determinação feminina presente em todas as atividades do mundo atual.

 Jutta Kleinschmidt
 
Claro que estou me referindo a uma parte do mundo onde já se conseguia definir um padrão de vivência moldado na independência pessoal. A incompreensão ou impossibilidade de reação ainda é imensa em muitos lugares e classes sociais por diversos e discutíveis motivos.  Mas, sim, podemos bater no peito, agora confortáveis dentro de sutiãs anatômicos depois de superarmos a fase irreverente da queima dos ditos e afirmarmos com orgulho que as mudanças foram avassaladoras. A luta de todas as mulheres corajosas do passado deixou-nos um legado irrefutável: a Liberdade ou, pelo menos, o direito de exigi-la para a maioria. Será?
Por que, então, tenho a impressão de que algo foi perdido ou desperdiçado nesse processo?
De que alguma coisa, nas entrelinhas dessa história, não foi percebida ou não está sendo conscientemente admitida?
Por que sinto que mulheres (e homens) não estão mais felizes, apenas mais sobrecarregados e reféns de um mundo cada vez mais confuso, intolerante e injusto?
Por que, mulheres bem resolvidas e bem sucedidas criaram filhos, descendentes dessas conquistadoras, que estão por aí, impermeáveis e sem ideais?
Por que os saudáveis valores humanos na sua essência (independente do sexo) foram relegados ao segundo plano em prol da busca por gratificações tão superficiais, exigentes, materialistas e equivocadas?
Por que as mulheres, diante de tantos fatos e exemplos grandiosos, ainda confundem liberdade com vulgaridade? E não vale culpar a mídia. Já provamos nossa inteligência.
Por que depois de séculos em que mulheres determinadas, com suas belas histórias, escolheram e conseguiram, usando as mesmas armas dos homens (talvez tenha sido esse o erro) imporem-se decisivamente nessa guerra de sexos, nós não conseguimos construir um mundo melhor?
Ou conseguimos?
Perguntas que me faço...





Fontes das imagens: Google
Fontes das pesquisas: http://quadrodemulheres.blogspot.com.br
                                        www.ibge.gov.br
                                        www.invivo.fiocruz.br
                                        www.brasil.gov.br



Por Aline Andra
   

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